sexta-feira, 20 de maio de 2011

Não jogue a toalha


Luciano Oliveira

Na linguagem do futebol, que o brasileiro entende muito bem, a expressão “jogar a toalha” tem a ver com desistência. O técnico, ou o jogador, jogam a toalha para dizer que estão abandonando o time, não vão mais se envolver com o clube, ou seja, não querem mais envolvimento com aquele grupo. O mesmo jargão vale para outros esportes.
Jesus, nos poucos momentos que lhe restava com os seus discípulos, deixa uma exortação, de forma simbólica para todos; dobra-se diante deles e lava os pés de cada um. O lavar dos pés era uma das práticas mais comuns e humilhantes para os escravos naquela sociedade. Inclinado sobre eles, o Mestre demonstra o novo tipo de liderança que eles iriam exercer, diferente dos modelos com os quais estavam familiarizados; entenderam a figura do líder-servo.
Achei interessante quando li em um devocional do Cenáculo, do dia 15/05/2011, que os formandos na Universidade de Sioux Falls, nos EUA, recebem, junto com o diploma, uma toalha, símbolo da vocação para servir dentro das suas respectivas competências; entendem, então, que estão sendo enviados com uma missão.
Jesus foi hábil em quebrar maneiras de pensar e subverter valores da sociedade. Transformar um líder em um servo, foi um conceito novo e absolutamente revolucionário, verdadeira inversão da pirâmide. Os líderes, autoridades romanas ou o clero judaico, eram honrados, respeitados, bajulados e servidos; nesta reviravolta, simbolizada pela toalha para secar os pés, fica claro que no reino de Deus é diferente.
Acho que na modernidade, caracterizada pelo individualismo, as pessoas aprendem que devem crescer para ter o mundo aos seus pés. Mas no reino de Deus é diferente. Que importa ganhar o mundo inteiro e não ter a vida?
Muitos, na Igreja atual, veem a espiritualidade como enfadonha, tediosa, previsível, sem paixão, sem sentido. Alguns preferem isolar-se da Igreja adoecida cheia de hipócritas. Mas no reino de Deus é diferente. Quem serve e se prepara para o outro, quem agarra a sua toalha e não a larga mesmo com a censura de muitos, entendeu o espírito do evangelho; o congregar é razão para testemunhar e agradecer a bondade diária de Deus, é momento de troca de serviços na mutualidade dos dons, e não o reencontro com um Deus ausente e silencioso, que só visita a sua criação aos domingos.
A liturgia do lava-pés é encenada na vida, nas cidades, nos endereços da dor, da doença, da solidão; curvados diante dos nossos próximos contemos histórias, falemos de esperança, seguremos suas mãos e enxuguemos, não seus pés, mas suas lágrimas.
Não jogue sua toalha, não abandone o grupo, mas também, não se limite às suas rotinas; perceba quem é o teu próximo, seja líder e feliz servindo, contrariando todas as expectativas deste mundo. O reino de Deus não é diferente disto.

 lucianorsoliveira@gmail.com

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