sexta-feira, 20 de maio de 2011

Sobre a obscuridade da Igreja brasileira

Rev. Marcelo Carneiro

Não sou de escrever sobre a Igreja. Não por covardia ou omissão, mas por achar que precisamos olhar mais para o mundo do que para dentro. Um sintoma de nossa doença está em ficarmos olhando exclusivamente para dentro, discutindo estruturas, pensando de forma mesquinha em como somos bonitos e estamos crescendo.
Prefiro estudar a Bíblia e falar e pensar sobre os problemas do mundo, os mesmos pelos quais o Evangelho foi pregado por um galileu – Jesus, filho de José - da pequena aldeia de Nazaré, situada a 6 km de uma antiga capital, Séforis, que fez missão de forma obstinada e que, muito mais pelo amor que demonstrou do que pelas curas e milagres que fez, foi reconhecido como o Messias, Filho de Davi, o Salvador, o Príncipe da Paz, o Filho de Deus. Mas pregar sobre Ele dessa forma não dá Ibope, é pregação fraca; evidenciar o amor é coisa de frouxo, num mundo de espertos. Mesmo assim prefiro falar e pensar sobre os problemas do mundo à luz do Evangelho de Jesus, o Cristo.
O problema é que passei os últimos dias lendo e ouvindo palavras arrebatadoras de pastores de alma, e quando olho ao redor, o uivo que ouço dos lobos vestidos de cordeiros e as fanfarronices dos ladrões e salteadores me incomodam bastante. Por isso tenho que falar.
É assim que a Igreja Evangélica está crescendo no Brasil, como uma turba desenfreada, insana, um restolho do bom senso que não aceita o diferente, que alimenta o ódio e desrespeita a todos, menos aos líderes, esses sacrossantos seres que deixaram de ser pastores para se tornarem gerentes, com títulos que vão de Pastor a Pai-apóstolo. São pessoas levadas pela ganância sórdida, sem nenhuma boa vontade (I Pd. 5.2). Como Jeremias profetizou – no sentido correto do termo, em que uma pessoa analisa criticamente, à luz da vontade divina, a realidade que a cerca, e não como adivinhação ou determinação de vontade própria – contra os pastores (Jr. 23) que dispersam as ovelhas, não cuidando delas. Na verdade, ele diz que tais pastores se tornaram estúpidos (Jr. 10.21). Também o profeta Ezequiel afirmou: “profetiza contra os pastores de Israel”.
Questionar essa liderança é rebeldia; pensar é deixar o diabo agir; discordar é estar endemoninhado. Mas, vejam, quanta ironia: não são esses os antiecumênicos, que chamam a Igreja de Roma de Anticristo, Babilônia e tantas coisas mais? Como a chamam assim, se eles agem da mesma forma que a acusam de agir? Agem como se o ministério pastoral fosse sacerdócio sacramental; ignoram a presença leiga na Igreja, por considerar massa de manobra e apenas para suprir as “necessidades” financeiras da Igreja; admitem e incentivam as crendices mais insanas, sob o pretexto de que a libertação precisa de um processo – não no sentido de uma elaboração, de uma reflexão, mas da repetição e da forçosa presença em sete semanas de unção, sem o quê o nome de Jesus – O NOME DE JESUS! – não terá efeito. Falam em salvação pela fé, mas impõem sobre os crentes cargas pesadas de ativismo religioso, condição básica para serem salvas.
Até quando, Senhor, subsistirão tais criaturas? Sei que tenho falhas, mas a mais hedionda de todas é se fazer de superior, trazer para si a glória que pertence somente a Deus, e deixar de lado o serviço, o amor ao próximo – não é amor ao crente, por favor!!! -, a humildade. Temo que estamos gerando o Anticristo, pelo fato de alimentarmos uma atmosfera tão doentia e insalubre – foi uma atmosfera parecida que permitiu a ascensão de Hitler, na Alemanha; as consequências ainda estão presentes hoje.
Essa igreja evangélica brasileira é sui generis: usa a tecnologia da comunicação moderna, mas pensa e age como a Igreja medieval, que acusa de ter saído da direção divina. Não sei se esse texto muda alguma coisa, mas sem dúvida o desabafo me faz bem. Na verdade fiquei pensando se devia ou não lançar esse texto, mas depois escutei a voz do bom senso: se ninguém clamar, as pedras clamarão. E para quem acha que não falei do Metodismo Brasileiro, eu digo: ele não sai de minha cabeça. E infelizmente, acho que já foi contaminado por essa praga que infestou o Brasil.
Graça e Paz. A quem quiser receber.
Notas da Redação – 1) Este texto do Rev. Marcelo Carneiro foi motivado por matéria escrita pelo Rev. Moisés Abdon Coppe, da Igreja Metodista de Bela Aurora (MG). É matéria bem extensa, que você poderá consultar em:
2) O título deste artigo refere-se às igrejas evangélicas em geral e não à Igreja Evangélica Brasileira, um dos ramos do protestantismo brasileiro.

Extraído do Jornal da Vila 1521

2 comentários:

niquevr disse...

Precisamos mostrar isso às pessoas, de alguma forma, já que há tanta gente abandonando o evangelho, ou mesmo, deixando de conhecer, porque é condicionada a crer que seus pedidos serão atendidos após sete, oito, quatorze semanas levando e trazendo rosas, anéis, lenços. Qual não será a novidade: campanha pós campanha pouco ou nada muda. Pelo contrário, só servem para manter as pessoas cativas, e cheias de ilusões. A partir daí, fora das igrejas, talvez comecem a assistir ao suspeito, frio e, portanto, inócuo evangelho descompromissado pregado pela televisão. Ou mesmo resolvam fazer tudo o que vinham sendo privadas, numa espécie de catarse, ou mesmo de rebeldia/protesto incosciente, por terem permitido que alguém as enganasse. São vítmas da ganância e da ignorância de alguns líderes religiosos. Essas pessoas não tiveram o privilégio de conhecerem o verdadeiro Cristo, o qual nunca as orientaria (como biblicamente nunca orientou) a fazer correntes, tão pouco faria delas exigências que as privassem de suas liberdades de ir e vir ou de ofertar com tranquilidade. Temos que orar para que Deus levante pessoas com a iniciativa do Rev. Marcelo Carneiro e de pastores como Luciano Oliveira que estão plenamente conscientes desse movimento e se colocam contra. Orar para que, como eles, outros abram a boca, preguem, escrevam, influenciem. Temos que orar para que tenhamos atitude para conhecer (estudar, buscar fontes limpas) e mostrar o evangelho mais puro, digno do Reino de Deus.

Dani Velasco disse...

Muito bom o texto. Finalmente alguém expôs de maneira clara o problema da igreja atual.